Futebol: Chelsea-FC Porto, 1-0: Futebol por água abaixo

O jogo terminou, a chuva continua e é provável que o quadro se mantenha. É assim em Londres, especialmente para os lados de Stamford Bridge, onde o sol raramente se impõe e o cinzento prevalece sem que se perceba bem porquê. O FC Porto perdeu com o Chelsea, mas não merecia. E as linhas que se seguem não são a crónica de uma vitória moral. São constatação de factos. O Dragão jogou mais que suficiente para desanuviar o clima do costume.
Minuto 2. O ponteiro dos segundos deu mais de uma volta completa e o FC Porto prossegue no meio-campo do adversário, a trocar a bola, à procura de espaços numa exiguidade, ciente de que os nomes e as tradições não acertam dois passes. Muito menos ganham um jogo…
O FC Porto não foi feliz e Cech foi o mais decisivo dos ingleses. Ficamos por aqui? Não seria justo. A produção do Dragão merece ficar registada. Minuto 5. Hulk arranca da linha para o miolo e dispara de pé esquerdo… O gigante checo defende como pode, com os joelhos, num pânico precoce. Chove mais intensamente…
O Chelsea joga firme. Aposta nos tackles, troca a bola sem grandes habilidades, abrevia processos. Mas a defesa do FC Porto está impecável. No ar, pelo chão, na asfixia colectiva. Helton transmite segurança. E solta a máquina. Em meia hora Rodríguez cabeceia por cima e remata cruzado, com veneno, Guarín aparece a cabecear rente à trave e Raul Meireles ameaça.
Aceita-se o empate ao intervalo. O Chelsea podia ter marcado, o FC Porto podia ter marcado. E talvez merecesse mais, uma vez que jogou melhor. Se o jogo tivesse um filtro para a qualidade, o laranja do fogo do Dragão seria o tom preponderante. Está 0-0. E chove.
Minuto 47. Pelo ar, aos repelões, Anelka ganha um ressalto e dispara. Helton faz mais uma grande defesa, mas a bola volta ao pé direito do francês. Alvaro Pereira tenta barrar o remate, mas nada há a fazer. A combinação assemelha-se a acertar no Euromilhões. Sequência de repelões, bola a sobrar para Anelka, Helton a voar, a bola novamente a chegar ao francês, Alvaro Pereira a colocar as pernas entre o remate e a baliza, o tiro a passar pelo «buraco da agulha»… Por momentos, a chuva sente-se como um balde de água fria.
Depois de uma primeira parte equilibrada, o Chelsea marca sem conceber perigo. E recua, abdica da iniciativa, criando uma espécie de bailado defensivo que pode ser interpretado como a dança da chuva. Os ingleses queriam bátegas, o FC Porto queria sol. Mesmo em horas tardias. Falcao, Guarín, em duas ocasiões, e Varela exigiram o melhor de Cech, Hulk acertou na rede lateral. Tudo isto depois de Ancelotti ter trocado Kalou por Belletti.

O Dragão acabou a encostar o adversário às cordas, numa demonstração de personalidade e futebol que os portistas não esquecerão. Esta, repete-se, não é a crónica de uma vitória moral. É a certeza de que este FC Porto tem tudo para ser grande. À chuva, na neve, ao sol. Contra quem defende, diante de quem tem sorte, cara a cara com tradições enfadonhas.

FICHA DO JOGO

UEFA Champions League (Grupo D – 1ª jornada)

Estádio Stamford Bridge, em Londres
Árbitro:
Konrad Plautz (Áustria)
Assistentes: Bernhard Zauner e Andreas Fellinger
4º árbitro: Stefan Messner

CHELSEA: Cech; Ivanovic, Ricardo Carvalho, Terry «cap.» e A. Cole; Essien, Ballack, Malouda e Lampard; Kalou e Anelka
Substituições: Kalou por Belletti (76m)
Não utilizados: Turnbull, J. Cole, Sturridge, Hutchinson, Bruma e Borini
Treinador: Carlo Ancelotti

FC PORTO: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves «cap.» e Alvaro Pereira; Fernando, Guarín e Raul Meireles; Mariano Gonzalez, Hulk e Rodríguez
Substituições: Mariano González por Falcao (54m) e Rodríguez por Varela (64m)
Não utilizados: Nuno, Belluschi, Maicon, Tomás Costa e Sapunaru
Treinador: Jesualdo Ferreira

Ao intervalo: 1-0
Marcador: Anelka (47m)
Disciplina: Cartão amarelo a Essien (15m), Malouda (18m) e Fernando (77 e 90m). Cartão vermelho, por acumulação, a Fernando (90m)

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